domingo, 29 de maio de 2011

A VIDA NOS BOSQUES

Com certeza minha próxima leitura:

Walden é um livro escrito por Henry David Thoreau, escritor estadunidense. No livro, o autor relata dois anos de solidão vividos nas proximidades do lago Walden, na zona rural da cidade de Concord. Durante esse período, Thoreau não foi propriamente um ermitão, visto que frequentava sua aldeia e também recebia muitas visitas.

Publicado em 1854, Walden é um manifesto poético contra a civilização industrial que ganhou força nos Estados Unidos do século XIX. Diante da maior complexidade da vida social estadunidense derivada do crescimento da industrialização e urbanização, Thoreau propõe o retorno ao simples.

“Walden” é uma proposta prática sobre as possibilidades de uma vida simples. Thoreau retira-se para a floresta, onde constrói sua própria casa e móveis e vive com o mínimo necessário à sobrevivência – sem luxos e em contato intenso com a natureza. Ao mesmo tempo que prova em termos financeiros que uma vida simples é viável, propõe uma nova visão de homem quase mística: em contato com a natureza e com os livros.

sábado, 28 de maio de 2011

STOP COMSUME!!!


(link no título)

SURPLUS - Terrorized Into Being Consumers (Suécia, 2003)
Direção: Erik Gandini
Duração: 120 minutos

Uma odisseia visual intensa filmada ao longo de três anos em oito países. Desde os confrontos explosivos das manifestações em Génova, 2001, as bonecas para uso sexual de 7000 dólares, Surplus explora a natureza destrutiva da cultura consumista. Sobre um pano de fundo onde coabitam os líderes mundiais mais cínicos e lideres do pessoal das grandes empresas e fanáticos da Microsoft, o filme foca-se no controverso guru da anti-globalização, John Zerzan, cujo apelo à provocação de danos sobre a propriedade inspirou muita gente à intervenção directa nas ruas. Uma montagem impressionante numa série de imagens de cortar a respiração transforma a noção estatística, segundo a qual 20% da população mundial absorve 80% dos recursos globais, numa intensa experiência emocional.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

SE MATA

(link no título)

Capitalismo e Suicídio: a outra face da flexibilização

"As relações capitalistas no mundo do trabalho não envolvem somente uma racionalidade necessária à divisão, organização e gestão do tempo, espaço, das tarefas e das habilidades humanas a serem desempenhadas para produzir, distribuir, vender bens e serviços. Elas implicam a vida emocional dos indivíduos; suas relações pessoais e os vínculos com a comunidade e com grupos sociais mais amplos.

O velho Marx a partir do conceito de alienação já denunciara o quanto o trabalho na sociedade capitalista era agressivo e empobrecedor da vida emocional dos trabalhadores. Em condições sociais capitalistas, o trabalho, a venda da força do trabalho como mercadoria, significava para o trabalhador a mortificação do seu corpo e a ruína do seu espírito, pois nele não encontrava outra finalidade que não a de garantir sua mera sobrevivência. A reprodução de sua vida e energias não difere essencialmente da reprodução e manutenção de outro instrumento produtivo qualquer útil à produção. Numa belíssima passagem de O Capital, afirma Marx: “O que o trabalhador produz para si mesmo não é a seda que tece, nem o ouro que extrai da mina, nem o palácio que constrói. O que produz para si mesmo é o salário; e a seda, o ouro e o palácio reduzem-se para ele a uma determinada quantidade de meios de vida, talvez a um casaco de algodão, umas moedas de cobre e um quarto num porão”.

Há muito, ao menos na maior parte do mundo, as condições de 12 e 16 horas de trabalho da época de Marx foram deixadas pra trás. O capitalismo mudou. As formas de gestão do trabalho também. E, com isso, o problema passa a ser outro. Não mais a redução ou o atrofiamento das qualidades e potencialidades especificamente humanas pelo trabalho em condições capitalistas, mas o excesso de engajamento prático e pessoal que o capitalismo passa a exigir de nós. Exigência que na verdade é apropriação de regiões cada vez maiores de “nosso tempo livre”, de nossa inteligência e capacidades de aprendizado e de relacionamento. No que pese as mudanças, entretanto, o impacto avassalador das relações de trabalho – e de sua organização – na vida emocional das pessoas persiste. Dessa vez de uma maneira mais sutil na aparência, paulatina e disfarçada de liberação das antigas amarras e obstáculos ao exercício da criatividade e da expressão da individualidade; liberação da hierarquia, da rigidez da burocracia, dos males da rotina, do trabalho repetitivo e monótono e da especialização estreita.

Aos trabalhadores pede-se que encarnem em sua atividade todo o seu potencial criativo, todas as suas forças, competências e traços de sua inteligência e personalidade que lhes possam auxiliar em sua nova missão com o intuito de que sejam mais produtivos e úteis à empresa capitalista contemporânea. Para tal, cada trabalhador deve estar o mais aberto possível a mudanças em curto prazo, deve com destemor assumir riscos continuamente e se desprender de leis e procedimentos for­mais quanto ao desempenho de sua atividade. Ele deve enfatizar em seu trabalho uma renovação constante de conhecimentos sob a forma de cursos de “atualização” e “capacitação”. Deve abraçar todas as exigências de flexibilização, não importa se ela é de tempo, de local, de função ou mesmo de trabalho. Acaso não é esse o receituário para o sucesso e êxito profissional que tanto ouvimos de gurus do emprego e marketing pessoal, como o do apresentado no programa Fantástico?

O problema é que a celebração da flexibilização realizada por determinados segmentos da sociedade atual esconde, ou melhor, jogar pra debaixo do tapete, a sua outra face. Há o outro lado da moeda do qual muito pouco se fala. Ao fim e ao cabo, o que devemos perguntar é: a que preço, em termos emocionais, psicológicos e sociais, as pessoas tem obtido, ou tentado, sua adaptação mais ou menos exitosa a esse novo mundo da flexibilização das relações de trabalho? Um dos sintomas concretos a propósito do alto preço que estamos pagando é o aumento drástico do número de suicídios no local do trabalho. Para se ter uma ideia, na China há redes no topo dos edifícios e nas janelas dos andares para se evitar que trabalhadores se arremessem chão abaixo. Outro exemplo é o dado macabro da empresa francesa France Telecom que, entre 2008 e 2009, contabilizou o suicídio de mais de 35 trabalhadores.

Na última terça-feira, um trabalhador de 57 anos da mesma empresa francesa imolou-se voluntariamente pelo fogo no parque de estacionamento da corporação! Ora, o suicídio no local de trabalho não é uma ocasionalidade, uma particularidade sem maior significado. Bem sabemos, como nos mostrou o sociólogo Emile Durkheim com respeito ao suicídio que este muitas vezes é mais do que simplesmente o agregado de atos individuais, ou fruto de uma situação individual particular. O suicídio, como fato social, carrega propriedades padronizadas e passivas de identificação e explicação causal. Nesse sentido, tirar a vida no local de trabalho é ao mesmo tempo uma ação proposital e carregada de conotação – uma mensagem brutal para a sociedade, como um grito – e também uma ação atravessada por padrões sociais objetivos. Como apontam diversos estudiosos do fenômeno, as ondas de suicídios no local de trabalho estão diretamente ligadas à reestruturação profunda das formas de organização laboral do capitalismo flexível; expressa nas novas técnicas e metodologias de avaliação – individual, sobretudo, – do desempenho, da “qualidade total”, outsourcing. Estas funcionam como critérios decisivos para a obtenção de prêmios, promoções assim como para a própria manutenção do emprego.

O imperativo da concorrência não se limita mais a concorrência entre empresas ou sucursais diferentes. Ele penetra no próprio seio do local de trabalho, produzindo uma concorrência interna entre colegas de trabalho e serviços, de sorte que o êxito de um constitui uma ameaça para quem trabalha ao seu lado. O nervosismo e a tensão tornam-se a tônica do ambiente de trabalho. Como conseqüência das transformações da gestão e avaliação do trabalho, os boatos, a retenção e a distorção das informações, inimizades, cinismo e falsidade passam cada vez mais a caracterizar o cotidiano do trabalho. Com isso, os vínculos e os laços sociais de solidariedade se fragilizam, são minados.

Forma-se, assim, um ambiente extremamente propício ao mal-estar, ao sofrimento, ao isolamento e ao desenvolvimento de doenças ligadas ao trabalho. Ao arrasar as antigas formas rígidas da burocracia e desmantelar o aparato estatal de proteção do bem-estar social, o capitalismo flexível dos dias atuais, assim diagnóstica o sociólogo Richard Sennett, enfraqueceu algumas das pré-condições essenciais para a formação do caráter pessoal, isto é, daqueles traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem. Essas pré-condições para a construção de um caráter minimamente consistente pressupõem um contexto que brindem as pessoas com segurança e confiança para a definição e busca de metas e ideais à longo prazo. Desse contexto é que resultam certas qualidades como a lealdade, o compromisso mútuo, a solidariedade de grupo, qualidades capazes de criar os laços entre as pessoas e lhes conferir uma identidade e um projeto de vida sustentáveis.

A flexibilização capitalista atual, com sua aversão ao longo prazo, corrói essas bases, tão vitais, segundo Sennett, para construção de uma narrativa coerente acerca de quem somos e de nosso lugar no mundo. Ela tem, portanto, um altíssimo custo psíquico em termos de sofrimento emocional e social para os indivíduos. Em vez de um ambiente de confiança e segurança, o trabalho se torna um ambiente de pura incerteza, instabilidade e desespero no qual somente a competição, a agilidade e a plasticidade tem lugar como medidas do sucesso. Os trabalhadores se vêem, dessa forma, constantemente acuados, em estado de permanente ansiedade e deriva, como que estivessem dentro de um carro desgovernado. Pressionados pelo estresse, impacientes por ganhar e ascender profissionalmente a todo custo, os trabalhadores não tem tempo nem espaço necessários para construir uma identidade com a qual possam com paciência e esmero dedicar-se como ideal de vida. Para os trabalhadores, a flexibilização significa a generalização de uma incapacidade de representar e projetar o futuro em bases relativamente estáveis.

Numa estrutura de total hostilidade à construção da vida e à criação de laços sociais profundos, o que esperar senão a forçosa e conseqüente reprodução de mal-estar, sofrimento e de reações de defesa, como o surto psicótico, o massacre e o suicídio? Pois, não nos enganemos, nessas circunstâncias, o suicídio é, com efeito, uma reação de defesa. Contra o esquema do curto prazo e da flexibilização que lhes toma por completo o tempo presente e futuro, as emoções e a criatividade, de que armas dispõem os trabalhadores para lidar com a pressão, as expectativas, as frustrações e todo o sofrimento ocasionado por um tipo de trabalho com tão grandes e intensas exigências? Que reações esperar em face de uma estrutura competitiva que predispõe milhares de pessoas ao desamparo e ao fracasso ainda que elas estejam empregadas em trabalhos valorizados e bem remunerados?

A conclusão não pode ser outra: o suicídio nessas condições é uma reação de defesa que busca, com efeito, a libertação das condições de vida responsáveis pelo sofrimento e mal-estar, no caso, em particular, as condições de trabalho marcados pela ênfase no curto prazo e na flexibilização. Ele é último ato voluntário de uma vida emocional totalmente esgotada, sugada e deformada. Uma última e desesperada reação somática frente aos desacertos e pressões inerentes à forma de vida capitalista contemporânea com os quais estes indivíduos tiveram de viver dolorosamente e desamparadamente. A flexibilização do trabalho pode até ter substituído a burocracia, mas em seu lugar ela criou uma tanatocracia de suicidas."

Alyson Freire - Graduado em Sociologia e membro do conselho Editorial da Carta Potiguar.

quarta-feira, 4 de maio de 2011